– Opinión sobre o reintegracionismo e/ou binormativismo.

A minha opiniom sobre o reintegracionismo, ou seja, sobre a teoria e a prática coerente que deriva da natural assunçom da unidade lingüística galego-portuguesa, com a necessária coordenaçom entre as variedades nacionais da nossa língua (entre as quais, a galega), nom pode ser mais favorável, sendo, como eu som, Presidente da Comissom Lingüística da Associaçom de Estudos Galegos (AEG), e tendo dedicado a minha vida de professor e de investigador ao estudo e à promoçom do galego enquanto parte essencial constituinte da pluricontinental língua galego-portuguesa.

Neste sentido, a minha atitude em relaçom ao reintegracionismo nom se distingue substancialmente da do próprio Mestre Ricardo Carvalho Calero.

– Necesidade do binormativismo ou como isto podería axudar a impulsar a nosa lingua.

Carvalho Calero falava de liberdade normativa, como medida civilizada para a sociedade galega resolver, mediante contrastaçom pacífica das  propostas codificadoras em presença, o conflito normativo; nos últimos tempos, algumhas organizaçons e lingüistas falam, nesse mesmo sentido, de binormativismo, com um apoio, mais ou menos forçado e eficaz, no regime lingüístico da Noruega. Eu, por meu turno, nom som partidário de designar o que Carvalho Calero sensatamente apelidava de «livre contrastaçom das opçons em presença» com o termo binormativismo, que me parece pouco preciso e até enganador. Com efeito, binormativismo remete para a existência de duas normas, de duas propostas de codificaçom, do galego, quando, na realidade, como sabe qualquer pessoa bem informada, o número de modelos cultos de galego hoje vigentes, ou seja, de propostas codificadoras formalmente estabelecidas, de normas minimamente bem definidas, é três: a norma isolacionista estabelecida e regulada pola RAG e polo ILG, a norma reintegracionista de padrom galego estabelecida e regulada pola Comissom Lingüística da Associaçom de Estudos Galegos (CL-AEG, continuadora desde 2016 da Comissom Lingüística da Agal) e a norma reintegracionista de padrom lusitano, estabelecida e regulada em Portugal. Por conseguinte, com correçom ou precisom designativa, o conceito por que aqui nos interessamos deve ser referido por um termo como bimodalismo (lingüístico), que remete para umha codificaçom bimodal, para a concorrência de dous modos de codificaçom, o isolacionista, com umha norma, e o reintegracionista, articulado em duas normas (em geral, nom mutuamente excludentes).

Feito este importante esclarecimento prévio, eu nom podo deixar de manifestar que o bimodalismo lingüístico, ou livre convívio e contrastaçom social das (três) normas do galego hoje vigentes, é requisito indispensável para o galego deter hoje em dia, nos inícios do século XXI, algumha probabilidade de perdurar como língua socialmente viva, dado que esse regime lingüístico bimodal poderá representar umha transiçom para a plena assunçom por parte da sociedade galega da unidade lingüística galego-portuguesa e, portanto, para a cabal compreensom da natureza nacional e internacional da língua autóctone da Galiza, condiçom necessária para o seu eficaz prestigiamento.

– Está a sociedade galega preparada para un novo sistema ortográfico?

Naturalmente que si. Eu só podo ser otimista a esse respeito. Se os nossos nenos e jovens aprendem a ler, a escrever e a falar em inglês, francês, alemám, latim e grego na escola; se os nossos adultos já lidam com sucesso com a leitura e pronúncia dos George Washington e John Wayne,  dos Jordi Pujol, Josep Guardiola e Barça, dos Ronaldinhos, Mazinhos e Mourinhos, como nom vam triunfar com a escrita etimológica e internacional das nossas palavras, de folha e de minhoca, de paço e de façanha, de jeito, de cereija e de gente?

– Opinión sobre a posibilidade de que Galiza entre na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Umha vez estabelecido em galego o bimodalismo, seria natural solicitar, e, provavelmente, fácil conseguir, a incorporaçom da Galiza como membro de pleno direito à Comunidade de Países de Língua Portuguesa, da qual, por sinal, já som observadoras duas entidades culturais galegas, a Academia Galega da Língua Portuguesa e o Consello da Cultura Galega.

– Cre que podería chegar a adoptarse o binormativismo en todos os niveis educativos? Se non en todos, en cales?

A implantaçom do bimodalismo galego no nosso sistema educativo seria umha questom de resoluçom nom muito complicada, se houvesse decidida vontade de se avançar em tal sentido. A esse respeito, cumpriria, naturalmente, umha reciclagem do professorado, um mínimo esclarecimento social e umha cuidadosa planificaçom pedagógica, orientada por critérios de progressividade e de comunicatividade.

– Como de importante é que se oferten aulas de lingua portuguesa nos institutos de educación secundaria da Galiza?

Nas atuais circunstáncias, em que a administraçom autonómica da Galiza (ainda) nom apostou no bimodalismo para o galego, o ensino de português no sistema eductivo galego, nem que seja como língua estrangeira, revela-se da maior importáncia, porque só a familiarizaçom com as variedades do galego socialmente estabilizadas (sobretodo, lusitano e brasileiro) é que garante umha eficaz aquisiçom de competência expressiva em galego, enquanto língua de cultura plenamente desenvolvida.

Pensamento político de CarvalhoCalero

– Como definiría a ideoloxía de Carvalho Calero?

No plano político, nom duvido de que Ricardo Carvalho Calero era pessoa de fundas convicçons democráticas, e acho que se, do ponto de vista socioeconómico, tendia para conceçons socialistas (que aqui nom fai falta dissecar ou especificar), do ponto de vista nacionalitário aspirava a umha plena soberania da Galiza, num horizonte que, como fica exposto num seu ensaio sobre Outeiro Pedraio, parece natural identificar com o de umha Gallaecia Magna. Além disso, penso que Carvalho Calero, por caráter e formaçom, e por simples princípio democrático, acreditava na meritocracia, um princípio cuja flagrante violaçom ele padeceu, com elevados custos pessoais, em diversas fases da sua vida.

– Pensa que esta faceta de Carvalho Calero non foi o suficientemente estudada?

Provavelmente nom, mas, nesta altura, nom disponho de informaçom concludente a esse respeito.

Vida e obra

– Cal considera que é a contribución de Carvalho máis importante para a literatura galega? Razóns…

Carvalho Calero declarou que o mais íntimo do seu ser criativo se encontrava na produçom poética, e eu nom poria em dúvida tal apreciaçom. Quem aqui responde nom é especialista em literatura, mas si um bom leitor de literatura e, nomeadamente, da produzida por Carvalho Calero, e, nessa condiçom, podo dizer que, no ámbito da criaçom literária carvalhana, eu destacaria especialmente, com efeito, a poesia e, ainda, os ensaios, em que podemos incluir a crítica literária que o Mestre ferrolano tam assídua e sabiamente exerceu. Nesse sentido, para a gente nova que ainda nom entrou em contacto com a obra de Carvalho Calero, eu atreveria-me a fazer aqui duas sugestons de leitura, deixando agora de parte o seu magnífico romance Scórpio, já mais bem conhecido entre o público geral: por um lado, as Cantigas de Amigo e Outros Poemas (1986), de que aprecio, sobretodo, as deliciosas composiçons tecidas em volta de mulheres míticas e mitológicas; por outro lado, os ensaios, de inexcedível perspicácia intelectual e elegáncia expressiva, de tema literário, lingüístico, cultural ou político, reunidos nas coletáneas Letras Galegas (1984) e Do Galego e da Galiza (1990).

– Hai algunha obra deste autor que fose minusvalorizada ou que mereza un maior recoñecemento?

Como sabemos, toda a obra de Carvalho Calero tem sofrido silêncio e ocultamento públicos por parte do poder cultural e político, devido, sem dúvida, ao inabalável compromisso do professor ferrolano com a causa reintegracionista. Ora bem, todas as pessoas que se tenhem aproximado da sua obra de forma isenta, nom sectária, recohecem em Ricardo Carvalho Calero um grande da Galiza, umha das figuras mais importantes da filologia galega e um dos vultos fundamentais da cultura galega no século XX.

Postura da RAG a respecto da figura de Carvalho Calero

– Na súa opinion, que factores levaron a RAG a dedicarlle as Letras deste ano a Carvalho? Foi prexudicial a súa opinión sobre a ortografía?

Que só em 2020 a RAG tenha dedicado o Dia das Letras a Carvalho Calero, trinta anos decorridos desde o seu falecimento, se deve, simplesmente, ao facto de o professor ferrolano ter sido porta-voz emblemático do reintegracionismo; que a RAG nomeie Carvalho Calero para o Dia das Letras deste ano, após esse longo degredo, poderá atribuir-se ao sucesso da pressom insistentemente exercida sobre a monárquica instituiçom da Rua Tavernas por múltiplas personalidades, associaçons culturais e agentes sociais, que durante todo esse tempo nom tenhem deixado de denunciar como um escándalo tal injustificada postergaçom.

– Considera que desde a RAG lle deu un trato vexatorio á figura de CarvalhoCalero?

Acho que a preteriçom de Carvalho Calero por parte da RAG pode qualificar-se, em justiça, de indecente e obscena.

– Dada a inmensa obra de Carvalho Calero e todas as súas contribucións para coa lingua galega, como se pode xustificar que a RAG tardase tanto en lle dedicar as letras?

Veja as minhas respostas às duas perguntas anteriores.

Posíbel adiamento para o 2021 do Día das Letras dedicado a CarvalhoCalero

– Acha que a RAG ten interese en que o ano de Carvalho pase canto antes ou con menor repercusión? Ou acha que a situación actual favorece o desexo da RAG?

Dadas as circunstáncias acima explicadas, é provável, com efeito, que muitos membros da RAG nom tenham sentido mágoa polo facto de a pandemia coronaviral ter em larga medida obstaculizado, e estar ainda a obstaculizar, os atos de divulgaçom e homenagem associados à dedicaçom a Carvalho Calero do Dia das Letras Galegas de 2020.

– Pensa que a RAG pode chegar a recuar e mudar a data, tal e como piden numerosas entidades culturais?

Nom sei se a RAG, finalmente, acederá a prolongar a 2021 a homenagem a Ricardo Carvalho Calero (que aquela tenha agendado outubro de 2020 para a realizaçom dos atos do Dia das Letras nom é um bom sinal!), mas o que si tenho claro é que deveria fazê-lo, nem que seja como ato de reparaçom do indecente ostracismo a que tem submetido durante largos anos a figura de Carvalho Calero.

– Considera necesario que se estenda o ano Carvalho Calero até o 2021?

Considero-o indispensável para a cultura e para a língua do nosso país, umha cultura nacional, umha língua internacional.

One Comment

  1. É hoje a AEG a só organizaçom a defender qualquer ideia digna para o nosso idioma.
    Nom sei o que pensaria Carvalho da AGLP, a única Academia da Língua que existe na Lusofonia (aquilo de mais papistas que o Papa…).

    AGAL já ficou como umha associaçom testemunhal, mesmo a perder parcerias com instituiçons (livrarias, etc…); o PGL cada vez oferece piores conteúdos…

    Normativamente houve duas cisons: AEG e AGLP deixârom AGAL fora de qualquer interesse salvo para as sessons ordinárias e extra-ordinárias e qualquer encontro culinário periódico.

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